Paredes planejadas de Brasília ganham cores inesperadas com os grafiteiros

Branca e cinza por essência, Brasília ganha nuances de improviso graças à arte de grafiteiros de todo o Distrito Federal

Arte de Siren -  (crédito: Ygor Chaves/Divulgação)

Arte de Siren – (crédito: Ygor Chaves/Divulgação)

Quando as obras de Oscar Niemeyer começaram a dar corpo para o avião que vivia nos esboços de Lucio Costa, Brasília ganhou curvas e formas originais e uma monumentalidade que voltou os olhos do mundo para um quadradinho no centro do Brasil. Quando tudo começou, as cores eram majoritariamente o branco e o cinza. É nessa brecha que a arte de rua entra e modifica o que era feito para seguir planos.

O grafite é uma forma de arte essencialmente urbana, que ocupa espaços vazios, em muros e paredes, com desenhos coloridos e grafias arrojadas. Parte da cultura hip-hop, o grafite surge do protesto da pichação e se desenvolve para dar voz a um pensamento artístico contemporâneo. Antes foco de preconceito, esse estilo de expressão tem ganhado a graça do público.

Em Brasília, o tombamento e o respeito ao planejamento original da cidade podem dificultar um pouco o trabalho de quem usa as tintas para diversificar a cidade, mas são muitos os grandes artistas que se destacam com as latinhas de spray nas mãos.

Gurulino é um desses destaques locais. Artista de renome na cidade, Pedro Sangeon nasceu em Brasília e foi criado na Asa Sul. Estudou artes visuais na Universidade de Brasília (UnB) e, desde 2002, pensa em arte para colorir as ruas da capital. “Sou um dos artistas que literalmente mais espalharam tinta colorida por metro quadrado em Brasília nos últimos anos”, diverte-se.

Para o artista, as ruas sem beco de Brasília são uma grande tela em branco. “Comecei a pensar arte de rua durante a faculdade, e a usar a rua como experimentação de um monte de ideias e trabalhos de arte. De videoarte, performances e instalações, sempre tive uma enorme curiosidade de como seria criar um objeto que pudesse conversar com esse cérebro coletivo da cidade. Acho que numa tentativa de entender a mim mesmo e o lugar onde nasci.”

Gurulino acredita que por meio do grafite é possível encontrar um amanhã mais próspero. “É uma saída para a formação ética e moral de crianças e adolescentes. Saída para um futuro melhor, rico, inteligente. Saída para diminuir as diferenças sociais e aproximar mundos. Saída para conflitos, para a esperança de um mundo melhor.”

Para o artista, as ruas sem beco de Brasília são uma grande tela em branco. “Comecei a pensar arte de rua durante a faculdade, e a usar a rua como experimentação de um monte de ideias e trabalhos de arte. De videoarte, performances e instalações, sempre tive uma enorme curiosidade de como seria criar um objeto que pudesse conversar com esse cérebro coletivo da cidade. Acho que numa tentativa de entender a mim mesmo e o lugar onde nasci.”

Gurulino acredita que por meio do grafite é possível encontrar um amanhã mais próspero. “É uma saída para a formação ética e moral de crianças e adolescentes. Saída para um futuro melhor, rico, inteligente. Saída para diminuir as diferenças sociais e aproximar mundos. Saída para conflitos, para a esperança de um mundo melhor.”

“As ruas nos convidam”

Foi essa saída que encontrou Nics, artista do crew SDN. Há três anos Nicole Torres, nascida e criada em Sobradinho 2, adotou o nome artístico para colorir a cidade de spray. “Desde que comecei, tive experiências novas, conheci pessoas e histórias incríveis. E descobri um novo caminho para a minha vida.” A artista se sente motivada por ser parte de um movimento, mas aceita que está apenas escrevendo as primeiras linhas da própria história. “Minha caminhada no grafite está só começando.”

A intenção de Nics de fazer parte dessa cultura não é apenas mudar a própria vida, mas, mesmo que de maneira pequena, alterar o mundo que a cerca. “Eu acredito no grafite como uma saída estética. Ele transforma lugares, dá cor, vida e sentido”, exalta. Se, com sua arte, consegue tirar um sorriso por dia, ela acredita já estar exercendo esse papel. “Às vezes, em caminhos que várias pessoas passam, uma arte tem um impacto gigantesco no dia a dia. Acredito que isso motiva os artistas a estarem ali. As ruas nos convidam.”

Brasília como cenário é importante para o desenvolvimento desses trabalhos. Camilla Siren, conhecida nas paredes como Siren, acredita que a cidade tem algo místico que faz surgir esses talentos do grafite. “Posso ser suspeita para dizer, sendo nascida e criada aqui, mas sinto Brasília como uma cidade com solo fértil, onde eu aproveito e crio oportunidades.”

Siren acredita que, mesmo efêmera, a arte de rua faz um trabalho essencial. “Transforma a cidade em um museu a céu aberto. Uma das formas mais democráticas e acessíveis de conexão arte e público, e consequentemente, com novos possíveis artistas.” Ela torce para que o trabalho que faz interesse outros a seguir o mesmo caminho. “Acho que essa ‘acessibilidade’ colabora para o surgimento de novos artistas fora da bolha tradicional e galerista, e que veem nas ruas um suporte de expressão e visibilidade.”

Mesmo com pouco menos de 10 anos nas ruas, Siren tem um livro com a coletânea dos principais trabalhos e fez uma parceria com a marca brasiliense Dane-se. Por esses e outros motivos, é taxativa: é uma artista de Brasília em Brasília. “Houve chances de mudança para outras cidades do eixo cultural São Paulo-Rio… Sempre venderam a ideia de que um artista só vinga quando cria carreira lá. Mas sempre quis permanecer e construir algo aqui.”

Essa relação com Brasília se repete em outro grande nome do grafite local. Toys, nome artístico de Daniel Morais, já passou mais da metade da vida ornamentando as paredes da cidade. “Comecei com 12 anos, e este ano faço 33”, lembra. Filho de nordestinos, é da primeira geração da família a nascer em Brasília. Por meio do grafite, conheceu o mundo. Contudo, sempre teve na cabeça que era a capital que queria marcar. “Eu quero que a estética do meu trabalho seja vinculada a Brasília. Tento criar uma identidade no meu trabalho que seja reconhecida e se torne uma das caras ou uma das marcas da cidade para quem olha.”

“O grafite vem para quebrar, vem para mostrar que a cidade está viva, com pessoas pensando, criticando, deixando mensagens”, acredita Toys. “Por isso, talvez seja tão importante que uma cidade que ganhou vida a partir de esboços, em papéis, tenha espaço para que os muros virem telas e deixem ainda mais vivo o sonho artístico da capital do país.”

Fonte: Correio Braziliense

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